Numa dessas segundas saí sem camisa no meio da chuva. De peito aberto, menino sem medo, moleque sem rumo. Enquanto os raios caíam a poucos metros do meu antebraço, resolvi sentar num meio fio e desafiar Deus. Ao invés de olhar para o céu, fechei os olhos e lhe perguntei se era mais difícil ser pai ou filho. Tentei algo escutar, mas nada havia além de trovoadas e o forte barulho do vento. Deus fez greve de palavras. Nada me disse. Entendi que deveria encontrar respostas por minha conta: pai tem sensação de poder, filho tem certeza de impotência; pai põe no mundo, filho entra na história. A chuva passou, mas curiosamente os raios seguem despencando. Antes fossem raios de sol. A vida é esse breu que separa a luz do silêncio. Vou por uma camisa para não adoecer. 

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.