Era uma terça-feira de inverno a primeira vez que ouvi “Losing my religion”: aquilo foi um caminhão desenfreado passando por cima do meu peito – desobediência à primeira vista, o amor veio em seguida. Um movimento rápido dos olhos e eu já não estava mais no mesmo lugar. Nem eu, nem meus colegas parafinados. A passagem da adolescência para o mundo adulto é esse buraco aberto no baço com uma mão lá dentro devorando as incertezas e sangrando as espinhas toscas da face. Tem um dia que a gente se despede do ócio e conhece o negócio, que a gente diz adeus aos santos e enfrenta os demônios. Tudo envelhece, menos a música. A música repete o esquecimento na forma de som. A gente acha que sabe a letra, mas é a letra que nos decora.

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